Quando eu era menor,
costumava passar muito tempo na casa da minha vó italiana.
Entre flameris (doce de laranja servido quente) e pão com tomate (hmmm)
Lembro que ela recebia as amigas para um - as vezes não muito amistoso - jogo de cartas.
E lá iam elas, tarde adentro na jogatina.
Uma delas - que sempre comparecia, mesmo não convidada - lia cartas.
Umas cartas com desenhos
(torres, urso, anel de noivado, um cachorro...e por aí)
Cada carta combinada ou sozinha produzia um significado já ensaiado.
O cão perto de uma mulher - que maravilha! - amiga fiel.
já, se aparecesse o urso...cruzes...amiga das mais traíras...convinha isolar com um sinal da cruz feito com arruda benzida.
Lembro que a frase de impacto, acompanhada pelo olhar de mistério,
vinha assim:
- Essa é tu (apontava para a carta com a figura de uma mulher)
De noite na cama pensando....
e daí saía todo o sortilégio da consulente...
amor, traição, dinheiro e as vezes...a mooooorte...
nunca da consulente, claro.
Sempre pedia pra ela ler as cartas pra mim...ansiosa..
queria saber com quem eu iria casar..
fama, beleza, poder e fortuna...
Pois é...passei longe do que as cartas me prometeram....
agora fico aqui...de noite na cama pensando...
Ah o destino....
Ainda bem que todos temos algumas cartas na manga....
ui!
